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sábado, 30 de junio de 2012

Proibido dar amor? Perigo de acostumar

Ontem, 29 de junho, foi decretado o Dia Internacional do Sono Feliz. Milhares de mães encheram as redes sociais de declarações contrárias às torturas infantis à hora de dormir, instigadas por autores como Eduard Estivill (Nana Nenê), e perpetradas pelas próprias famílias cada noite em praticamente todo o mundo civilizado. Hoje milhares de famílias que não acreditam na violência declaram, orgulhosas, o seu prazer em cuidar, atender, acompanhar e amar os seus filhos à hora de dormir, compartilhem cama ou quarto com eles, ou não.

As torturas das que eu falo consistem em ignorar o choro do bebê ou criança, mesmo se ele vomita (consequência do estado de choque) ou se auto-lesiona batendo a sua cabeça contra a parede. O adulto conta com uma fria tabela de minutos na mão, que lhe indica cada quanto tempo pode ir para falar a distância (não vá ser que o contato físico com o filhote lhe devolva a humanidade perdida) que o ama, que ele tem que aprender dormir sozinho e que está fazendo isso com ele pelo seu bem (!!). Mensagem que evidentemente o bebê ou criança não é capaz de escutar nem de assimilar, pois está em pleno choque emocional.

Depois de alguns dias, semanas ou meses, o bebê ou criança se resigna ao abandono mater-paterno e não chora mais. Não é que apreenda a dormir, não batam palmas, não. Simplesmente ele assume que está sozinho, e que de nada adianta chamar a mãe, chorar ou se desesperar. Primeiro e grave ataque a sua autoestima. Primeiro sintoma da Síndrome de Indefesão Apreendida.

No futuro, talvez, quando ele se veja em uma situação difícil, em lugar de lutar, pedir ajuda ou procurar recursos para sair dela, vai ficar esperando as dificuldades tomarem conta dele, pois desde criança apreendeu que não está na mão dele superar as dificuldades, que não adianta lutar ativamente. Serão seres passivos que, com a cabeça baixa, irão deixar a vida, as outras pessoas e as dificuldades passarem por cima deles, consequencia daquele maltrato.

Falo de torturas, e não de métodos, pois estão cientificamente demonstrados os graves efeitos que a aplicação estas pautas tem no cérebro dos bebês e crianças, para toda a vida (pode ler mais sobre isso no post: O sono dos nossos filhos e as conseqüências de deixá-los chorar

Digo tortura, e não método, porque se fizéssemos isso com um idoso, um doente ou um aleijado ninguém iria duvidar em se escandalizar, e até em chamar à Polícia. Digo tortura porque não cabe outra palavra, basta olhar a cara de terror de uma criança que chora até o espasmo respiratório, que implora o colo da mãe, que estica no desespero a mão pela grade do berço em busca de um mínimo contato humano, que vomita em estado de choque. Falo de tortura porque não há maior crueldade que receber um trato assim da pessoa da qual maior amor espera um bebê ou criança: sua mãe.

A cultura do anti-amor

Me pergunto qual é o motivo pelo qual está proibido dar amor aos nossos filhos. Por que uma mãe não deveria pegar no colo e consolar com o seu peito à pessoa que mais ama no mundo? Por que devemos lutar tão insistentemente contra a nossa natureza? Qual é o interesse de ser, cada vez, mais inhumanos? Quem ganha com isso? Alguém, de fato, ganha alguma coisa com isso? Por que?

Uma amiga do meu irmão mais novo, de 20 anos, me contava ontem que no trabalho voluntário que ela faz cada semana com crianças abandonadas, lhe tinham proibido “ser carinhosa com eles”. E me explicava os motivos: “dizem que como os coitados têm sofrido muito por falta de amor e de figuras de apego, se eu sou carinhosa com eles depois vão sofrer de novo quando eu, algum dia, deixe de ir, ou eles saiam daí. Mas eu não consigo ser de outra forma com eles!”.

Como assim? Como nunca receberam amor tem que continuar assim para sempre, com o objetivo não sofrer? E querem convencer a quem com este argumento? Acaso acreditamos que eles estão bem assim, sem amor nem figuras de apego? Por esta mesma lógica, não adianta ir à praia, nem assistir um filme ou curtir um happy hour com amigos, porque como talvez um dia no futuro vamos sofrer dor nos ossos, perder capacidade de audição ou ter um câncer renal, não poderemos mais fazer estas coisas e vamos sentir saudades. Vamos sofrer.

Então, melhor não conhecer os prazeres da vida, para depois não sentir saudades deles. E melhor não namorar, casar ou ter filhos, vá que os nossos seres queridos morram e soframos a vida inteira pela sua falta.

É como quando te dizem isso de: "vá tirando o peito já, porque depois no berçário ele não vai tê-lo mais", ou "sai para dar um passeio algumas vezes por dia para ele se acostumar com a sua ausência e não sofrer tanto quando começar a escolinha". Desde quando adiantar o sofrimento te poupa do mesmo? Você pôs o despertador várias vezes por noite antes de ser mãe, para "depois não sofrer tanto quando o filhote fôr te acordar de noite muitas vezes"? Ou já foi de férias sozinha, sem o marido, só para "ir se acostumando à posível ausência dele algum dia, no futuro, e assim não sofrer tanto"? Quando é com um mesmo perde todo o sentido este tipo de lógica, claro.

Para completar a história de terror, uma outra moça me explicava que na escolinha onde ela faz estágio, com crianças de 2-3 anos, também lhe tinham proibido pegar elas no colo ou ajudá-las lhes dando a mão ao caminhar (crianças de 2-3 anos!!), “tenho que ser pouco amorosa e dar um trato não muito próximo, senão mais distante, me dizem que se eu dou a mão para um, os outros podem querer também”.
Isso me lembra quando na escola supostamente “open mind” aonde meus filhos iam faz alguns anos, me proibiram amamentar o meu filho de dois anos enquanto esperava o mais velho sair, “porque as outras crianças podem querer também”.

Pessoal, essa é a mensagem:

“Não dê amor na frente dos outros, porque o resto da humanidade pode querer também”.

“Não seja carinhoso, porque os outros podem perceber o que estão perdendo”.

“Não trate humanamente ao seu filho, porque amanhã pode pretender o mesmo trato em uma sociedade que já quase se esqueceu de como se faz isso de amar”.

“Não abra os olhos ao mundo, porque algum dia você vai morrer e não vai poder olhá-lo mais”.


Prohibida la reproducción total o parcial de este artículo sin el consentimento de la autora:

Elena de Regoyos

-Doula de puerpério e coach parental
-Consultora de slings e amamentação

www.mamaedoula.blogspot.com

2 comentarios:

  1. Lembro de quando voce usou esses argumentos para me mostrar que nao seria nem um pouco benefico adiantar o sofrimento da Julia com a futura ida para a escola. Custei a entender, mas agora me parece obvio.
    Obrigada, amiga!
    A ultima frase esta perfeita!!!

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  2. Linda!! Saudadíssimas de você!!

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